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Oceanário de Lisboa contribui para o estudo de tartarugas que desafia as Teorias Evolutivas do Envelhecimento

Ciência descobre que o risco de morte das tartarugas não aumenta com a idade, através dos dados de Zoos e Aquários

Ainda que os humanos tenham vidas mais longas em comparação com a maioria das espécies animais, não podemos escapar à inevitabilidade do envelhecimento. A ciência descobriu, no entanto, que os testudines — a ordem a que pertencem as tartarugas — podem desafiar esta tendência, seguindo um padrão diferente de envelhecimento em comparação com os humanos e outras espécies.


Os dados registados pelo Oceanário de Lisboa no Species360 Zoological Information Management System (ZIMS) contribuíram para uma investigação que descobriu que as tartarugas desafiam as teorias evolutivas comuns e podem reduzir a taxa de envelhecimento em resposta a melhorias nas condições ambientais. Num novo estudo, publicado na revista Science, os investigadores utilizaram dados cedidos pelo Oceanário de Lisboa e por outros aquários e parques zoológicos, para examinar 52 espécies de tartarugas terrestres e marinhas.


As teorias evolutivas do envelhecimento preveem que todos os organismos vivos enfraquecem e se deterioram com a idade (um processo conhecido como senescência) — e eventualmente morrem. Agora, e com o contributo dos dados recolhidos pelo Oceanário de Lisboa e outras instituições, investigadores da Species360 Conservation Science Alliance e da Universidade do Sul da Dinamarca mostram que certas espécies animais, como tartarugas, podem exibir uma senescência mais lenta ou mesmo ausente quando as suas condições de vida melhoram. Das 52 espécies de tartarugas, 75% mostram uma senescência extremamente lenta, enquanto 80% têm uma senescência mais lenta do que os humanos modernos.


«Verificamos que algumas destas espécies podem reduzir a sua taxa de envelhecimento em resposta à melhoria das condições de vida encontradas em jardins zoológicos e aquários, em comparação com a natureza», disse a co-autora do estudo, Professora Dalia Conde, diretora de ciência da Species360, e diretora da Species360 Conservation Science Alliance. «Além disso, as organizações zoológicas modernas desempenham um papel importante na conservação, educação e investigação, e este estudo mostra o imenso valor dos registos dos aquários e parques zoológicos para o avanço da ciência».


«Como parte do nosso compromisso de conservação e bem-estar animal, o Oceanário regista, analisa e partilha os dados sobre os animais presentes no aquário, contribuindo para a gestão das populações e para a conservação das espécies. É gratificante saber que os dados que recolhemos e tratámos das espécies da exposição temporária “Tartarugas marinhas. A Viagem.” contribuíram para um estudo tão relevante, e tenham ajudado os investigadores a compreender melhor o envelhecimento destas espécies.», afirma Núria Baylina, curadora e diretora de conservação do Oceanário de Lisboa. Explica ainda que os animais presentes no Oceanário, além de serem «embaixadores» das suas espécies e proporcionarem ao público encontros emocionais que sensibilizam para a urgência da sustentabilidade, permitem recolher dados que a médio-longo prazo apoiarão a ciência e influenciarão os decisores para uma gestão em prol da conservação das espécies e dos ecossistemas.


O Oceanário de Lisboa é membro da Species360, uma organização sem fins lucrativos que mantém o sistema de gestão de informação zoológica (ZIMS) — a maior base de dados sobre a vida selvagem ao cuidado humano — e utiliza o ZIMS para manter registos detalhados dos animais das suas coleções, contribuindo para um esforço internacional para aumentar o conhecimento sobre as espécies marinhas. Os dados sobre tartarugas-marinhas, recolhidos e partilhados no ZIMS pelo Oceanário de Lisboa entre 2011 e 2014, contribuíram diretamente para este estudo, agora publicado. As sete tartarugas que integraram a exposição no Oceanário de Lisboa, vindas de três centros de reabilitação, completaram o período de reabilitação no aquário desta exposição tendo sido devolvidas ao oceano após terem recuperado as condições físicas necessárias à sobrevivência no seu habitat natural.

As tartarugas continuam a crescer após a maturidade sexual

Algumas teorias evolutivas preveem que a senescência aparece após a maturidade sexual como um trade-off entre a energia que um indivíduo investe na reparação de danos nas suas células e tecidos e a energia que investe na reprodução, pelo que os seus genes são passados para as gerações seguintes.
Este trade-off implica, entre outras coisas, que, após atingirem a maturidade sexual, os indivíduos deixam de crescer e começam a experimentar a senescência, uma deterioração gradual das funções corporais com a idade.


As teorias predizem que tais concessões são inevitáveis e, portanto, a senescência é inevitável. Esta previsão foi confirmada para várias espécies, particularmente mamíferos e aves. Contudo, acredita-se que organismos que continuam a crescer após a maturidade sexual, como tartarugas, têm o potencial de continuar a investir na reparação de danos celulares e são assim considerados como candidatos ideais para reduzir e mesmo evitar os efeitos nocivos do envelhecimento.


«Vale a pena notar que o facto de algumas espécies de tartarugas mostrarem uma senescência negligenciável não significa que sejam imortais; significa apenas que o seu risco de morte não aumenta com a idade, mas é ainda maior do que zero. Em suma, todas elas acabarão por morrer devido a causas inevitáveis de mortalidade, como doenças», disse outro dos autores do estudo, Dr. Fernando Colchero, Analista Estatístico Principal da Species360 Conservation Science Alliance e Professor Associado do Departamento de Matemática e Informática, Universidade do Sul da Dinamarca.