Projeto "Shark-tag", financiado pelo Oceanário de Lisboa
Migrações e utilização do habitat pelo tubarão-martelo-liso
Os tubarões-martelo-liso (Sphyrna zygaena) encontram-se ameaçados, sobretudo devido à sua captura acidental em redes e linhas de pesca e à sua biologia, pois apresentam um crescimento lento, uma taxa de fecundidade baixa e uma maturação tardia.
O projeto "Shark-tag", apoiado pelo Oceanário de Lisboa, foi desenvolvido entre setembro de 2012 e agosto de 2016 e teve como objetivo estudar o comportamento migratório do tubarão-martelo-liso e as suas preferências de habitat.
Com o apoio de barcos de pesca da frota portuguesa de palangre de superfície, a equipa do projeto capturou vários tubarões ao largo de Cabo Verde e junto ao golfo da Guiné. Estes foram marcados com transmissores via satélite, que vão registando a sua localização e profundidade, bem como a temperatura da água e a intensidade da luz, e devolvidos ao mar.
Através dos dados recolhidos, foi possível perceber que esta espécie habita sobretudo águas superficiais (até aos 70 metros de profundidade) e quentes (superiores a 23ºC). Os adultos, em particular, parecem permanecer mais tempo em águas mais quentes comparativamente com os tubarões juvenis, que se distribuem por águas a diferentes temperaturas. A distribuição, em termos de profundidades e temperaturas, é constante e idêntica durante o dia e a noite para os adultos, enquanto os juvenis preferem maiores profundidades durante a noite e águas mais superficiais durante o dia.
Os dados recolhidos, ainda que preliminares, parecem indicar que o tubarão-martelo-liso apresenta um comportamento distinto das restantes espécies de tubarões que habitam esta zona do Atlântico, pois não realizam migrações para profundidades diferentes ao longo do dia.
Neste estudo conseguiu-se ainda registar uma das maiores migrações desta espécie a nível mundial, com um indivíduo a percorrer mais de 6000 quilómetros, durante 150 dias, desde a costa de Cabo Verde até à costa sul de Angola.
Este projeto inovador, para esta espécie de tubarão no Atlântico, permitiu conhecer melhor o seu comportamento migratório e definir o habitat preferencial. Tal poderá revelar-se crítico no apoio a tomadas de decisão para estratégias que visem a sua conservação.
Consulte o relatório do projeto Shark-tag aqui.